quinta-feira, 24 de junho de 2010

Nova vida

Vou reactivar um pouco este blog, que, espero, passará também a poder ser seguido pelo facebook.

sábado, 3 de outubro de 2009

A importância de ser no Rio

Quantos se deram conta de importância de os Jogos Olímpicos de 2016 se realizarem no Rio de Janeiro? Esperemos que a imitação mediática de um ou outro mais esclarecido fazedor de opinião crie uma bola de neve: não só de palavras, mas do aproveitar da oportunidade para a lusofonia e a lusofilia. Estas são verdadeiras e importantes notícias.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Desacordo ortográfico



(na foto: o maior galardão literário do Brasil, ganho, em 2007, na categoria de Direito, por brasileiros e um português - exemplo da comunhão intelectual lusófona, de que o acordo ortográfico é um sinal)


De novo muitos críticos do acordo ortográfico. Muito frequentemente com linguagem empolada, ferida, e displicente para com o esforço de uma escrita comum. Na Internet, com toda a liberdade que ela propicia, prevalece um discurso pessoal, do género: "não vou falar pretoguês". Racismo, afinal. Que outra coisa senão racismo, ainda que não apercebido?
Temos dito e repetido: uma reforma ortográfica não muda a Língua. Muda apenas a forma (superficial, epidérmica: formal...) de a escrever, e é uma oportunidade para racionalizar e uniformizar essa escrita. O que tem vantagens no Mundo, que, ao aprender Português acaba afinal por optar sempre pelo português do Brasil, porque (tenhamos ideia da nossa dimensão - pelo menos aos olhos dos outros) o português de Portugal representa 10 milhões ou pouco mais. É curioso que os maiores velhos do Restelo do legítimo e puro português de Portugal estão a condená-lo a ser um dialecto de uma língua sobretudo brasileira.

Claro que custa aprender novas regras a Portugueses e aos demais Lusófonos. Mas o que vai custar a esta geração se ganhará nas próximas. Não é um milagre, mas ajuda à nossa comunidade, à nossa cultura, ao modo de ser que se veicula pelo falar e pelo pensar em português.
Olhem se por dificuldade em fazer contas também tivéssemos sido contra o "Euro" e desejássemos guardar o velhinho "escudo". Não haveria escudo que nos salvasse agora na crise.
Seria bom que ultrapassássemos o comodismo de não reaprender meia dúzia de regras. É curioso como dos dois lados do Atlântico, sem que haja diálogo, as pessoas se negam a querer escrever o português "do outro". Que querem preservar a própria língua. Quando não é de português "do outro" que se trata, mas de uma nova forma, em acordo, que comporta até possibilidades de variantes.

Receio que muito do nacionalismo linguístico que por aí anda não seja mais que comodismo pessoal. Ninguém quer hoje aprender muito. E reaprender a escrita parece uma condenação ao degredo dos bancos da escola elementar, ou primária... como se diz de um e do outro lado do Oceano.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Vencidos da Vida?


Há uma mudança de paradigma (e não o digo como banalidade ou moda) na apreciação do legado dos intelectuais.
Pergunto-me se algum grupo como o dos "Vencidos da Vida" poderia sequer alcançar eco de existência futura (histórica) numa sociedade como aquela (efémera e mediática) em que nos enclausuramos. Os "Vencidos da Vida" de ontem foram, na verdade, triunfadores. Hoje um grupo, mesmo "jantante", que lhes fosse idêntico seria, definitivamente, votado ao mais completo silêncio. Tal encerra uma lição relativamente às formas de actuação política (em geral). Por exemplo, quando ontem abandonar um cargo era nobre, denotava desapego ao poder, hoje até qualquer carimbo na mão de burocrata nem depois de morto se larga (e não pela rigidez cadavérica). Porquê? Porque hoje, desgraçadamente, as pessoas são apenas o pedestal, o cargo, o dinheiro em que se empoleiram. Não importa a sua estatura real, mas a que alcança artificialmente. E logo vem a questão: se são estes os dados do jogo, hoje, como jogar outro jogo? Está em discussão, mas a alternativa parece-me ser: ou entrar no jogo, ou sair definitivamente dele - num qualquer movimento de reclusão e saída do "mundo"... Haverá uma "terceira via"?

domingo, 21 de dezembro de 2008

Felizes Festas, Feliz Ano Novo


O Período de pausa lectiva do Natal, que proverbialmente (quando eram "Férias"!!!) começava em 18 de Dezembro e se prolongava até 6 de Janeiro (o tempora, o mores) ainda não começou para muita gente.
E durante esse período os estudantes terão muuuito que estudar, e os professores também: mil e uma teses nos aguardam, mil e uma conferências, congressos, e publicações.
Portanto, como duvido seriamente se terei um minuto livre para mandar postais e outras amenidades neste tempo, aqui ficam os meus bons votos para todos, com a árvore de Natal do ano passado ou de há dois anos (não tem havido tempo sequer para tirar uma foto...).
A fortiori, a menos que a musa irreprimivelmente me obrigue, tenho dúvidas sérias se conseguirei "postar" aqui neste periodo e no subsequente. Na verdade, quando terei tempo????

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Encruzilhada em Atenas


Talvez os analistas (oficiais, oficiosos e ociosos) de 1968, tivessem visto os acontecimentos estudantis de então em França, antes de toda a racionalização e cálculo político, como uma confusão, um grito inarticulado, algo de quase impolítico.
O que se tem dito sobre os acontecimentos mais recentes na Grécia também não anda muito longe, em geral, dessa ideia de "revolta" tout court, que cuidadosamente se aparta a anos-luz da revolução.
Discutimos no Clube 4.ª Dimensão o Maio de 68 e o futuro. Aprendi muito.
Não sabemos, tudo somado, quais as consequências deste movimento. A História está a dar a volta, a sua própria revolução. Como farsa agora, depois da sua primeira vez trágica, para retomar Marx? Não sei se como farsa.
Há problemas de todos os tempos. E os tempos não estão simples, nem fáceis.
Se parece que alguns neoliberais se estão a converter "ao socialismo", a inversa parece a alguns (com maior ou menor purismo) também verdadeira. Mas as conversões não serão, em ambos os casos, a "outras coisas"? Será que os tempos são de volta do socialismo, ou de um novo paradigma, que espera uma designação? Para já é de saudar a discussão sobre o socialismo e a ideologia em geral. Tempos afinal de esperança: ainda que de constatação da crise.
Crise que pode ser Kairos também.
Este postal é reticente e às voltas. Como ainda o horizonte.

(na imagem: escadaria da universidade de Atenas)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Demagogia, Maniqueísmo, Perigo Anti-Democrático






1. Falta de diálogo e, naturalmente, de consenso

Ouvimos há pouco uma crónica do escritor António Alçada Baptista (recentemente falecido) num programa de rádio, em que ele se dizia descrente do consenso. Fora dele inicialmente muito entusiasta, mas passara a descrer. E conta com muita graça e subtileza a história de um padre do colégio em que andara a quem, contra todas as evidências (mesmo uma ida à Alemanha em que fora revistado ignominiosamente), dera na cabeça, já na senilidade, para ser nazi. Até os maus tratos na fronteira foram para ele sinal de eficiência...
Alçada Baptista tem razão até certo ponto. Quando uma das partes teima (ou quando duas ou mais teimam), não pode haver diálogo verdadeiro, quanto mais consenso.
Estamos a ficar uma sociedade muito extremada, crispada. Os moderados são vistos de soslaio. Tudo tem de ser preto ou branco. "És morno, vomito-te". - Diz não sei que passagem bíblica. Mas por vezes não pode ser tudo quente ou tudo frio...
Pois é. Alguém disse também que as sociedades só valem pelos extremistas, mas só se conservam pelos moderados.
E a moderação – sublinhe-se - não significa meias tintas. Em muitos casos, significa horror à demagogia das soluções e das propostas fáceis como são todas as propostas e soluções maniqueístas.



2. Demagogia, falta de capacidade interpretativa (e de sentido de humor)


A demagogia está a tomar conta da opinião pública, melhor, da opinião que se publica.
Por exemplo, o caso da bandeira nazi no Parlamento da Madeira (para não falar das críticas injustas e desbragas a todos os governos, a todos os parlamentos e a todos os tribuanais) deu ensejo a algumas poucas intervenções lúcidas, mas a muita falta (sequer) de bom senso e capacidade de interpretação. Também os processos de intenção contra os "gato fedorento", julgando que atacavam a Igreja Católica quando na verdade sobretudo criticava (divertidamente: até é boa propaganda) as acções de formação para professores do computador Magalhães, ao que parece já de si bastante animadas. Em Portugal há uma clamorosa falta de sentido de humor, da subtileza, da ironia. Como já lamentava outro grande ensaísta também não há muito desaparecido, Eduardo Prado Coelho.



3. Sensacionalismo dos Media, procura de bodes expiatórios


Esquece-se frequentemente quem é o "inimigo principal". Dão-se tiros em todas as direcções e alguns tiros no pé. Alguns políticos de primeiro plano têm-se especializado nisso de uma forma competentíssima.
Os meios de comunicação social estão cada vez mais sensacionalistas. E muitos andam à procura de bodes expiatórios.
No Porto, um café (propriedade de quem não tem uma pinta de sangue judeu nem professa a fé judaica) tem o nome de uma cidade israelita. Logo zelosos neo-nazis aprendizes foram pintar a suástica na montra, e escrever em alemão (grande nacionalismo!): "Fora Judeus!". O café parece que fechou de medo... Pudera! Ali ao lado, uma loja viu a sua montra repetidamente arrombada... e não tinha nome judaico, antes soava (mera coincidência, será preciso dizer?) a alemão... Mas nenhuma inscrição sofreu, obviamente... Os ladrões são mais civilizados. Atacam de forma mais limpa.
Outros dizem que a culpa é dos partidos, dos deputados, deste ou daquele grupo... Há alvos fáceis, tradicionais...
Os democratas têm o dever de defender as suas instituições, de justificar o labor dos Parlamentos (particularmente vulneráveis para a massa inculta presa fácil do populismo), de ser um escudo de defesa de minorias que podem ser trucidadas pelo vandalismo dos recalcados.


4. Maniqueísmo, perigo anti-democrático


Andamos demasiadamente distraídos, mas "eles aí estão outra vez".
Cuidado com os maniqueísmos. Cuidado com as demagogias. Atenção às divisões internas entre os democratas. Elas naturalmente podem e devem existir, em pluralismo. Mas há divisões e formas de as afirmar que só levam água ao moinho dos que gostam de unanimismos sem rosto: ou com um só rosto – o do ditador.
Sabemos que é também um problema de qualidade: quando os políticos e as ditas elites têm entre si abismos de formação e de inteligência, pode acontecer que uns se irritem verdadeiramente com os outros.
Pode ser que ainda se tenha de defender a democracia de forma mais efectiva e afirmativa. Há que estar preparado. Não fazemos profecias nem temos dados concretos: apenas lemos nas estrelas da agitação social... e do rancor anti-democrático de alguns. Que estão a crescer. Não, como é óbvio, como perigo eleitoral – isso seria uma contradição nos próprios termos da sua existência. Os anti-democratas são por natureza poucos que arrastam, em momentos nevrálgicos, muitos. Basta que sejam uns tantos, organizados e decididos, para a democracia ter de se deixar de triunfalismos inconsistentes e dever pensar em defender-se. Desde logo, dando razões aos menos advertidos para a amarem. Esse é o melhor antídoto.
Se não fosse a nossa integração institucional na Europa, poderia haver maiores tentações... é certo. Mas, mesmo assim, pode haver muitas agressões, assaltos, enxovalhos, calúnicas, etc. E o sensacionalismo de alguns "media" rejubila quanto mais insulto e sangue correr.
Quem tiver lido os comentários às notícias no SAPO, na Internet começará a entender. Quem tiver estômago, leia duas ou três, ao acaso. Ora, perante tanto acefalismo e tanta verrina, tanto veneno, tanto ódio, das duas, uma: ou há grupos apostados em afundar o moral do país, e propagam esses "postais" de raiva, impropério, descontentamento ao rubro, revolta mesmo... de forma sistemática, ou então há fatias preocupantes da população... que talvez não votem até, mas pesam no mal estar social. Porque o que dizem na blogsfera dirão na rua, no mercado, no emprego...


5. Necessidade de uma resposta democrática


Pensemos nisso. A democracia portuguesa tem de dar uma resposta positiva. Não podemos, em tempos de crise, permitirmo-nos que muitos sectores sociais declaradamente sintam que os “Salazares” é que seriam bons.
E aí há um trabalho imenso a fazer sobretudo junto dos jovens e dos jovens universitários em especial – cuidando das futuras elites. Ao contrário de alguns, sem deontologia e sem pudor, cremos que um professor tem o dever de (sem a hipocrisia de se fingir asséptico) manter a independência e não fazer qualquer tipo de doutrinação ou proselitismo junto dos seus estudantes. Ou será que poderemos chegar a um ponto que o verniz terá que quebrar-se, e virá ao de cima a radical oposição entre os que querem a liberdade e os que maquinam a repressão, entre as mentes livres e as mentes enclausuradas, os que querem o progresso e os que desejam o passado?
Mas não pode ficar entretanto a democracia desarmada, sobretudo desarmada ideologicamente, quando cresce o saudosismo. Os nossos jovens já nasceram depois do 25 de Abril... não tendo padrões para cotejo. Com a incultura geral e histórica que as nossas escolas teimam em perpetuar, acham que Otelo Saraiva de Carvalho é um Hotel de luxo... Como se viu em entrevista na televisão. Para nossa geral vergonha.
As juventudes partidárias dos partidos democráticos onde estão? A elas cabe, cremos nós, algum papel.
E acima delas, aos jovens democratas sem filiação partidária.
De onde vem a ingenuidade segundo a qual, uma vez alcançada a democracia (e ainda assim imperfeita, técnica, superestrutural), deixou de haver inimigos da democracia?
Só pode advir do cansaço dos democratas, do seu acomodamento, ou da falta de cultura histórica.